Repúdio: Falas em congregação da FC de Bauru são retrógradas, revelam preconceito de classe e defesa de universidade para ricos

Repúdio: Falas em congregação da FC de Bauru são retrógradas, revelam preconceito de classe e defesa de universidade para ricos

O Sindicato dos Trabalhadores da Unesp - Sintunesp vem a público repudiar com veemência um conjunto de falas preconceituosas, elitistas e ofensivas à categoria dos servidores técnico-administrativos do campus de Bauru e aos estudantes da Unesp que ‘ousam’ estudar numa universidade pública mesmo não sendo ricos. As manifestações ocorreram durante sessão da Congregação da Faculdade de Ciências (FC) do campus de Bauru em 17/4/2024, que pode ser assistida em https://drive.google.com/file/d/1mu13fXn7lWDeTypIVQ_2jfebP3mp6C7Q/view.

Após exposição do presidente do Grupo Administrativo do campus de Bauru, professor José Alfredo Covolan Ulson, também diretor da Faculdade de Engenharia (FE), que abordou as dificuldades e desafios para o trabalho da Administração Geral (AG), abriu-se a fala aos presentes. O professor Carlos Roberto Grandini, do Departamento de Física da FC, aproveitou a oportunidade para desfiar um rosário de preconceitos, ofensas e concepções mercadológicas sobre a educação.

Criticando a lentidão na realização de serviços, ele apresentou a solução mágica: “Temos que fechar a AG, mandar todo mundo embora, pagar os direitos e terceirizar tudo”. O professor Covolan concordou “em 100%” com a fala do colega e disse que, sim, “a tendência é terceirizar todos os serviços”, mas que é preciso tomar alguns “cuidados”, citando como exemplo uma ação judicial movida por trabalhadores terceirizados do campus de Botucatu para pleitear a contratação direta pela Universidade. Grandini não se conteve: “Mas é claro... quem não quer essa vida boa?”.

Evidentemente, há problemas na AG de Bauru, assim como em grande parte das unidades. Mas é preciso abordar a questão com mais seriedade e honestidade. A Universidade passou os últimos 10 anos praticamente sem realizar contratações, deixando setores inteiros com pouquíssimos servidores e promovendo o acúmulo de trabalho, comprometendo a saúde física e mental de muitos deles.

Considerar a terceirização como caminho para superar as dificuldades apontadas, na verdade, é apoiar uma política de extrema precarização do trabalho, de contratação de trabalhadores com baixíssimos salários e poucos direitos. E, para piorar, muito mais cara para a Universidade. Será que os entusiastas da terceirização tiveram interesse em ler o relatório do grupo de trabalho (GT) criado pelo CADE para estudar o assunto? Os estudos do GT, entregues em agosto/2022 ao colegiado, mostraram que, nos anos de 2016 a 2021, com os gastos com terceirização, a Unesp poderia ter contratado e mantido em seus quadros cerca de 3.000 servidores técnico-administrativos, considerando o salário médio de um servidor celetista ASA II, por exemplo.

Mas o caminho fácil da terceirização – que precariza a vida do trabalhador, recheia o bolso dos empresários e sequer é vantajosa economicamente para a Universidade – parece ser mais atraente.

As pérolas na sessão da congregação da FC de Bauru, em 17/4/2024, foram além dos ataques aos servidores técnico-administrativos. Falando sobre permanência estudantil, o professor Grandini também expôs sua exótica opinião: “A Unesp não é mais pública, pois agora está pagando para os estudantes virem”, disse ele, em referência aos valores investidos em auxílios e bolsas para estudantes cotistas e de baixa renda. “Foram 500 milhões gastos em permanência estudantil em quatro anos... há algo errado aí. Esse dinheiro poderia melhorar muito a infraestrutura da Unesp.”

A fala é grotesca. Traduz o projeto que o docente defende para a Universidade pública, seu incômodo com o crescente ingresso de estudantes pobres, pretos, pardos e indígenas, sua defesa de uma universidade pública exclusiva para as classes média e alta.

O Sintunesp repudia as ofensas desferidas aos servidores técnico-administrativos e aos estudantes e insta os autores a se retratarem publicamente. Ao mesmo tempo, reafirma a defesa de uma universidade pública, gratuita, democrática, de qualidade e socialmente referenciada nos interesses da maioria da população.

À direção da AG e das faculdades, cabe dialogar com seus servidores, levantar os problemas, ouvir contrapontos, colher opiniões e sugestões. O exercício da democracia, por certo, é trabalhoso, mas é o caminho a ser percorrido por todos e todas que realmente se preocupam com a universidade pública.

Bauru, 24 de abril de 2024.

Sindicato dos Trabalhadores da Unesp - SINTUNESP


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